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Chateado, Trump manda recado para o Brasil, fala de Bolsonaro e choca em comunicado

Em mais um episódio que promete tensionar as relações diplomáticas entre Brasília e Washington, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disparou duras críticas ao Brasil e saiu em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em conversa com jornalistas na Casa Branca nesta quinta-feira (14), o republicano classificou o país como um “péssimo parceiro comercial” e afirmou que o processo judicial contra Bolsonaro é uma “execução política”. As declarações surgem no contexto da recente decisão de Trump de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros que entram no mercado norte-americano.

Questionado sobre o aumento das tarifas e sobre a aproximação de países latino-americanos com a China, Trump foi categórico ao justificar a medida. “O Brasil tem sido um péssimo parceiro comercial em termos de tarifas — eles nos cobram tarifas enormes, muito maiores do que as que nós aplicamos, e, basicamente, nós nem estávamos cobrando nada”, declarou. O republicano acrescentou que as barreiras impostas pelo Brasil dificultaram as relações econômicas e que, agora, a cobrança de 50% é “apenas a forma como as coisas funcionam”.

O tom da entrevista se tornou ainda mais sensível para a diplomacia brasileira quando Trump voltou a comentar sobre a situação judicial de Jair Bolsonaro. “O Brasil tem algumas leis muito ruins acontecendo… Quando eles pegam um presidente e tentam prendê-lo… Eu conheço esse homem, acho que ele é honesto. O que estão fazendo é realmente uma execução política”, afirmou, reforçando críticas que já vinha fazendo desde julho, quando passou a associar diretamente as investigações contra Bolsonaro a uma suposta “caça às bruxas” do Judiciário brasileiro.

As falas repercutem em um momento delicado para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta reverter as novas tarifas impostas pelos EUA. Um dia antes das declarações de Trump, Lula afirmou que o Brasil seguirá buscando o diálogo e a negociação. “Não queremos conflito. Agora, a única coisa que precisamos exigir é que a nossa soberania é intocável. Ninguém dê palpite nas coisas que nós temos que fazer”, declarou o presidente, em tom firme, mas sem fechar as portas para um acordo comercial.

A defesa pública de Trump a Bolsonaro não é inédita. Em 15 de julho, o republicano divulgou uma carta endereçada ao ex-presidente brasileiro, elogiando sua trajetória e criticando duramente a Justiça do Brasil. “O presidente Bolsonaro não é um homem desonesto. Ele ama o povo brasileiro e lutou muito por essas pessoas. Acho que isso é uma caça às bruxas e muito lamentável”, disse Trump na ocasião. As palavras vieram poucos dias depois de ele associar o aumento das tarifas às decisões judiciais envolvendo o político do PL.

Enquanto isso, no campo jurídico, Bolsonaro segue como réu no Supremo Tribunal Federal, acusado pela Procuradoria-Geral da República de liderar uma organização criminosa armada com o objetivo de desacreditar o sistema eleitoral, incitar ataques a instituições democráticas e articular medidas de exceção. O ex-presidente nega todas as acusações e, em interrogatório no STF, rechaçou ter participado de qualquer trama golpista.

A tensão ganhou mais combustível nesta semana, quando o Departamento de Estado dos EUA divulgou um relatório acusando o Brasil de deterioração no cenário de direitos humanos. O documento critica o presidente Lula e o ministro do STF Alexandre de Moraes, além de apontar que tribunais brasileiros teriam tomado medidas “amplas e desproporcionais” que minaram a liberdade de expressão e restringiram o acesso a informações na internet. Para analistas, o conjunto de declarações e documentos representa um novo ponto de inflexão na relação entre os dois países, sinalizando que a diplomacia brasileira terá de lidar com um ambiente internacional cada vez mais sensível e polarizado.