TRISTE NOTÍCIA: Michelle Bolsonaro vem a público e faz confirmação

Num momento em que Jair Bolsonaro (PL) tenta reerguer sua força política diante de reveses judiciais e diplomáticos, a ausência da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no principal ato bolsonarista marcado para este domingo (3/8), na Avenida Paulista, em São Paulo, ganhou contornos de crise dentro do núcleo duro do ex-presidente. A escolha de Michelle por comparecer ao evento em Belém (PA) e não na capital paulista foi vista com estranheza e gerou desconforto até entre aliados próximos, expondo fissuras em uma estratégia que deveria ser unificada para exibir força popular.
Bolsonaro, que enfrenta o desgaste de usar tornozeleira eletrônica por decisão judicial e as consequências políticas do recente tarifaço imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros, apostava alto na imagem de multidões em seu apoio como forma de retomar o protagonismo. No entanto, a fragmentação das lideranças e a ausência de figuras de peso na Paulista enfraquecem a narrativa de uma direita coesa e em crescimento. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também não irá ao protesto, deixando ainda mais desfalcada a linha de frente do evento mais simbólico para o bolsonarismo neste fim de semana.
A decisão de Michelle Bolsonaro foi anunciada por meio de aliados como a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o pastor Silas Malafaia. Em nota, sua assessoria afirmou que a ex-primeira-dama já tinha compromisso agendado com o PL Mulher em Marabá (PA) e que, aproveitando a agenda, participará do ato pró-Bolsonaro em Belém. A justificativa oficial sustenta que a estratégia do movimento é descentralizar as manifestações para mostrar capilaridade nacional. Apesar disso, o desconforto nos bastidores é evidente: para muitos, Michelle, que possui apelo significativo junto à base bolsonarista, deveria estar na principal vitrine política do dia.
A crítica à ausência de Michelle não se resume ao local escolhido. Segundo fontes internas do PL, o gesto evidencia uma falta de sintonia com os anseios da militância e, sobretudo, com a necessidade de fortalecer sua própria imagem como sucessora política do marido. Michelle é considerada uma das principais apostas da direita para o Senado em 2026 pelo Distrito Federal e tem seu nome constantemente ventilado como opção para a cabeça ou vice de uma chapa presidencial. Sua presença em São Paulo, ao lado de Bolsonaro, poderia reforçar essa imagem e consolidar seu protagonismo nacional.
Dentro do bolsonarismo, a atitude de Michelle foi classificada com adjetivos como “teimosa” e até “birrenta”. Alguns veem a decisão como uma tentativa de se distanciar da ala mais radical do movimento, enquanto outros acreditam que se trata de uma aposta equivocada em autonomia política. Não é a primeira vez que a ex-primeira-dama frustra expectativas: ela também não compareceu aos atos organizados por Malafaia na Paulista em junho e no emblemático protesto em Copacabana, no dia 16 de março. Essas ausências sistemáticas vêm sendo acumuladas como um histórico de afastamento dos grandes atos nacionais.
Ainda assim, há quem defenda a ex-primeira-dama, apontando que o importante é manter presença nos atos, independentemente da localização, desde que o objetivo maior – pressionar instituições e mobilizar a base – seja alcançado. A descentralização, argumentam, amplia a percepção de um movimento vivo em todas as regiões do país. Essa tese, no entanto, perde força diante da percepção de que a Avenida Paulista se tornou o principal símbolo de demonstração de poder político da direita bolsonarista nos últimos anos.
A escolha da ausência em São Paulo pode ter implicações maiores do que o simples cálculo geográfico. Em política, símbolos são decisivos – e Michelle, ao não dividir o palanque com Bolsonaro na Paulista, perde uma oportunidade rara de se projetar como figura indispensável à continuidade do legado do ex-presidente. Enquanto isso, nomes como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) surgem como alternativa em ascensão, participando de dois atos no mesmo dia – um em Belo Horizonte, outro na capital paulista –, num claro gesto de compromisso com a mobilização nacional.
A ausência de Michelle na Paulista acende, portanto, um sinal amarelo dentro do PL. Embora o partido siga tentando demonstrar unidade, os bastidores revelam desconforto com a falta de estratégia clara, com decisões individualizadas e, sobretudo, com a dificuldade em alinhar o discurso de lideranças que miram não apenas a sobrevivência política de Bolsonaro, mas também suas próprias ambições. O domingo, antes planejado como uma vitrine de força, corre o risco de expor divisões internas – e, com isso, fragilizar ainda mais um projeto político que busca desesperadamente se reinventar.
