Brasil

Olha só o que Bolsonaro disse sobre decisão de Trump

Enquanto medidas protecionistas adotadas pelo Brasil são constantemente alvo de críticas de alguns setores políticos, quando partem dos Estados Unidos, essas mesmas ações recebem aplausos calorosos. Essa contradição voltou a ganhar destaque nos últimos dias, após declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro e do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro, em defesa das tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros.

Mesmo antes de o ex-presidente norte-americano oficializar os termos de sua proposta de sobretaxa, Bolsonaro já se manifestava nas redes sociais em apoio à iniciativa. O gesto evidenciou mais uma vez a postura subserviente de parte do espectro político nacional em relação aos Estados Unidos — mesmo quando os interesses do Brasil estão em jogo.

Apoio irrestrito e contradições evidentes

Ao comentar a proposta de tarifa, Jair Bolsonaro afirmou que Trump estava “simplesmente protegendo seu país contra esse vírus socialista”, responsabilizando o atual governo brasileiro pelas sanções. Segundo ele, a gestão de Lula estaria impondo “grandes tarifas aos produtos americanos”, o que teria motivado a resposta dos EUA.

No entanto, a crítica ignora um ponto essencial: as políticas tarifárias brasileiras seguem praticamente as mesmas adotadas durante o governo do próprio Bolsonaro. Não houve mudanças significativas nas alíquotas, tampouco um aumento generalizado de barreiras comerciais contra os Estados Unidos.

Eduardo Bolsonaro reforça discurso ideológico

No mesmo tom, Eduardo Bolsonaro, deputado federal pelo PL-SP, utilizou as redes sociais para justificar o posicionamento norte-americano. Segundo ele, a ação de Trump seria uma resposta às “injustiças” promovidas pelo governo brasileiro, numa tentativa de defender os interesses americanos. “Socialistas, como Lula, acreditam em governos gigantescos”, declarou Eduardo, que atualmente se encontra fora do país e costuma se referir a essa condição como um “exílio político”.

A fala repete o padrão do discurso bolsonarista: atribuir ao socialismo — mesmo em sua forma genérica e descontextualizada — todos os males da política nacional, ignorando dados técnicos ou análises econômicas mais consistentes.

Fetiche geopolítico e subserviência diplomática

Especialistas em relações internacionais veem com preocupação esse tipo de comportamento. Para muitos analistas, ao elogiar medidas que prejudicam diretamente o Brasil, líderes políticos demonstram mais afinidade ideológica com figuras internacionais do que compromisso com os interesses nacionais.

“É um fetiche ideológico travestido de diplomacia. Não é política externa, é idolatria geopolítica”, comenta o cientista político Daniel Valverde, da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, atitudes como essa fragilizam a posição do Brasil no cenário internacional e expõem uma dependência simbólica dos Estados Unidos, mais emocional do que estratégica.

O que está em jogo: protecionismo e soberania

As tarifas impostas por Trump — ainda em fase de formalização — fazem parte de um movimento mais amplo de proteção do mercado interno norte-americano, especialmente no setor agrícola. Essa postura já havia sido observada durante seu primeiro mandato, quando adotou barreiras contra produtos do Brasil, China e União Europeia.

Por outro lado, quando o governo brasileiro adota medidas semelhantes — como incentivos fiscais ou salvaguardas para setores estratégicos —, a narrativa muda. Internamente, a aplicação de políticas industriais e tarifas regulatórias é muitas vezes tachada de “retrógrada” ou “intervencionista”.

A incoerência nesse discurso mostra como o debate sobre protecionismo no Brasil ainda é dominado mais por ideologias do que por análises econômicas. Defender o livre-comércio quando convém e apoiar o fechamento de mercados estrangeiros contra produtos brasileiros, apenas por afinidade política, não fortalece a economia nacional — apenas mina sua credibilidade.

Conclusão: interesses nacionais em segundo plano

A reação entusiástica de Jair Bolsonaro à possível tarifação de produtos brasileiros por parte dos Estados Unidos chama atenção pela falta de compromisso com o próprio país. Em vez de defender os interesses do setor produtivo brasileiro ou buscar negociações diplomáticas, o ex-presidente optou por endossar a retórica de Donald Trump, mesmo que isso represente prejuízo direto à economia brasileira.

Em tempos de reconfiguração da ordem global e de busca por maior protagonismo do Brasil nos mercados internacionais, atitudes como essa jogam contra os esforços de reconstrução da credibilidade nacional. Mais do que nunca, é necessário que o debate político sobre economia e comércio exterior esteja pautado por coerência, responsabilidade e, acima de tudo, soberania.