Em plena passeata Paulista: Bolsonaro faz pedido aos seus apoiadores

Ex-presidente reúne 44,9 mil pessoas em manifestação marcada por discursos políticos, ataques ao Supremo e defesa de condenados do 8 de Janeiro
Na tarde deste domingo (6), a Avenida Paulista foi novamente palco de um dos eventos políticos mais emblemáticos do país. Convocada por Jair Bolsonaro (PL), a manifestação reuniu cerca de 44,9 mil apoiadores, de acordo com levantamento da Universidade de São Paulo (USP), realizado em parceria com o Cebrap e a ONG More in Common. O principal pedido? Anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
A manifestação contou com a presença de sete governadores, além de parlamentares, lideranças do PL e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. O discurso do ex-presidente, realizado por volta das 15h40, foi o ápice do evento, marcado por críticas contundentes ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à atual gestão federal, bem como por uma defesa veemente da sua atuação política e de seus aliados.
O que motivou o ato?
O ato na Paulista foi mais do que um protesto. Representou uma tentativa clara de reorganização da base bolsonarista e de reforço da narrativa de perseguição política. Com faixas pedindo anistia, manifestações religiosas e críticas à Justiça, o evento teve forte apelo emocional e simbólico, reforçado pela presença de Michelle Bolsonaro segurando um batom — referência ao caso da cabeleireira Débora Rodrigues, presa após pichar a estátua da Justiça em Brasília.
Números e presença política
- Público estimado: 44,9 mil pessoas, contadas por imagens aéreas com uso de inteligência artificial.
- Comparação: Maior que a manifestação do Rio de Janeiro, há três semanas, que teve 18,3 mil pessoas.
- Lideranças presentes:
- Tarcísio de Freitas (SP)
- Romeu Zema (MG)
- Ratinho Junior (PR)
- Wilson Lima (AM)
- Ronaldo Caiado (GO)
- Mauro Mendes (MT)
- Jorginho Mello (SC)
- Também marcaram presença: parlamentares, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e pastores evangélicos.
O tom do protesto: fé, política e crítica
O ato teve início com uma oração conduzida pela deputada Priscila Costa (PL-CE), vice-presidente do PL Mulher. A fé foi uma constante durante o evento, mesclada ao discurso político. O vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), prometeu articular a votação de um projeto de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
As falas, no entanto, não se restringiram à defesa de presos. O Supremo Tribunal Federal foi alvo recorrente de críticas, especialmente por parte do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que chamou os ministros de “ditadores de toga”, inflamando o público.
Michelle e o batom da discórdia
Michelle Bolsonaro protagonizou um dos momentos mais simbólicos do evento. Ao segurar um batom e pedir “anistia humanitária”, ela evocou o caso de Débora Rodrigues, que se tornou símbolo da militância bolsonarista. A cabeleireira é ré no STF e também é apontada como possível candidata a deputada pelo PL em 2026. No ato, manifestantes carregavam batons — inclusive infláveis — em apoio a Débora.
Bolsonaro fala: críticas, justificativas e esperança
No auge da manifestação, Bolsonaro subiu ao trio e, com a retórica que o consagrou, defendeu os condenados, atacou o STF e voltou a questionar o resultado das eleições de 2022. Ele disse ter sofrido “pressões externas” e sugeriu que sua saída do país, em 30 de dezembro de 2022, teria evitado sua prisão ou até mesmo sua morte.
“O golpe deles só não foi perfeito porque algo me avisou para sair. Se eu estivesse aqui no dia 8, talvez estivesse apodrecendo na prisão ou assassinado”, declarou.
Ele também comentou sobre o filho, Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA, afirmando que “de fora pode vir alguma coisa” e que o deputado tem contato com “pessoas importantes do mundo todo”, em clara referência ao ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Inelegibilidade e futuro político
Ao final do discurso, Bolsonaro voltou a criticar sua inelegibilidade até 2030, decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após a polêmica reunião com embaixadores em que atacou, sem provas, o sistema eleitoral. Para ele, excluir seu nome das eleições de 2026 seria “negar a democracia” e “escancarar a ditadura” no país.
Conclusão
O ato deste domingo deixa clara a intenção de Jair Bolsonaro de manter sua base mobilizada, mesmo diante da inelegibilidade. Ao convocar multidões, pressionar o Congresso e desafiar o STF, ele sinaliza que o bolsonarismo segue vivo — e organizado.
Enquanto o Brasil se equilibra entre instituições democráticas e tensões políticas, o retorno de manifestações massivas na Paulista indica que o debate sobre o 8 de janeiro, a justiça e o futuro do país ainda está longe do fim.
