Brasil

“E agora, Moraes? Alexandre é duramente criticado e momento de tensão vem à tona”

Declarações de Marco Aurélio Mello reacendem debate sobre os limites do Supremo Tribunal Federal; jurista compara atuação de Moraes à de um paciente que precisa de análise psicanalítica

O ambiente político brasileiro ganhou mais um capítulo de tensão institucional nesta semana após duras declarações do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello. Em entrevista contundente, o magistrado aposentado criticou com veemência a recente decisão de seu antigo colega, Alexandre de Moraes, que impôs uma série de medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre elas, o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica e a proibição de acesso às redes sociais.

Para Marco Aurélio, as medidas determinadas por Moraes ultrapassam os limites constitucionais e jurídicos razoáveis. “Está tudo errado”, afirmou o ex-ministro, destacando que houve uma interpretação “alargada e exagerada” do Código de Processo Penal, que trata da imposição de medidas cautelares antes do julgamento definitivo.

A crítica não parou por aí. Mello defendeu que casos como o de Bolsonaro deveriam ter início na primeira instância, como ocorreu com o presidente Lula no passado. “A 1ª instância permitiria, no mínimo, a possibilidade de recurso e revisão da decisão. O que temos agora é um poder excessivamente concentrado”, disse.

“Moraes precisaria de um divã”, dispara Mello

Conhecido por seu estilo direto e pela defesa intransigente das garantias constitucionais, Marco Aurélio Mello foi ainda mais longe ao comentar o perfil e a conduta do ministro Alexandre de Moraes. “Para entender essas decisões, eu teria que colocá-lo em um divã. É uma atuação que exige análise psicanalítica”, ironizou. Segundo ele, a postura “incisiva e alargada” do Supremo Tribunal Federal tem causado um desgaste crescente da imagem da Corte perante a opinião pública.

“A população passa a ver o STF não mais como um árbitro imparcial, mas como um ator político ativo, o que é perigoso para a democracia. A atuação institucional do Supremo precisa ser equilibrada, e não protagonista de embates políticos”, completou.

Última Análise debate crise institucional e medidas do STF

As declarações do ex-ministro serão o ponto de partida para o programa Última Análise, que vai ao ar nesta terça-feira (22). O debate promete esquentar com a presença de nomes como o jurista André Marsiglia, o vereador Guilherme Kilter, a cientista política Júlia Lucy e o doutor em Teoria Econômica pela Unicamp, José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho.

O programa pretende discutir os limites do poder do Judiciário, os impactos das decisões monocráticas e o papel do STF no atual cenário político. A participação de juristas e especialistas promete trazer diferentes visões sobre a tensão entre os poderes da República.

Contagem regressiva para o “tarifaço” de Trump

Outro tema que estará na pauta do programa é o plano emergencial do governo brasileiro para mitigar os impactos das tarifas de 50% que os Estados Unidos, sob o comando de Donald Trump, prometem aplicar a partir de 1º de agosto. O movimento norte-americano atingirá diversos setores da economia brasileira, especialmente o agronegócio e a indústria de transformação.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a proposta de resposta será apresentada formalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda nesta semana. Segundo fontes do governo, o presidente determinou que todas as possibilidades de negociação com os EUA sejam exploradas até o último momento, numa tentativa de evitar o colapso comercial em setores estratégicos.

A estratégia inclui a abertura de diálogo direto com autoridades norte-americanas, articulação diplomática com países aliados e a elaboração de um pacote de medidas compensatórias internas, como linhas de crédito emergenciais e estímulos fiscais temporários.

Reações divididas

As medidas anunciadas por Moraes e as críticas de Marco Aurélio Mello geraram reações divididas no meio político e jurídico. Enquanto aliados de Bolsonaro classificaram a decisão do STF como “abuso de autoridade”, setores progressistas defendem a necessidade de controle judicial diante dos recentes episódios de desinformação e ataques às instituições democráticas.

Nas redes sociais, a repercussão foi imediata. Hashtags como #STFabusivo e #MoraesAutoritário figuraram entre os tópicos mais comentados do dia, ao mesmo tempo em que outras como #DefesaDaDemocracia buscaram defender a legitimidade das ações judiciais.

Independentemente do lado em que se esteja, o fato é que o debate sobre o equilíbrio entre os poderes e o papel do STF está longe de terminar. E a forma como o Judiciário age diante de figuras públicas — especialmente ex-presidentes — continuará sendo um dos temas centrais do noticiário político nos próximos meses.