E agora Moraes? Após ser denunciado, Alexandre recebe a pior notícia

O cenário político brasileiro voltou a ganhar contornos explosivos após declarações de Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista nesta quarta-feira (3/9), ele afirmou ter encaminhado documentos que, segundo a sua versão, comprovam a manipulação de relatórios no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições de 2022. O material, de acordo com Tagliaferro, foi enviado aos Estados Unidos e ao Parlamento Europeu e teria relação direta com a operação da Polícia Federal contra empresários que defenderam um golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder. A denúncia reacende discussões sensíveis sobre a atuação do Judiciário em momentos decisivos para a democracia brasileira.
Tagliaferro detalhou que o envio dos documentos ocorreu há cerca de uma semana e que já manteve contato com membros do Departamento de Estado norte-americano. Embora ainda não tenha recebido retorno formal dos EUA, ele afirma ter sido informado de que novas sanções poderão ser aplicadas com base no material. “Todo o conteúdo foi encaminhado ao governo dos Estados Unidos e já está em andamento no Parlamento Europeu”, declarou. A notícia coloca em perspectiva uma possível internacionalização da crise, ampliando o alcance do debate para além das fronteiras brasileiras.
Segundo o ex-assessor, os documentos apresentados conteriam evidências de que relatórios usados para justificar a operação de busca e apreensão contra empresários ligados ao bolsonarismo foram produzidos apenas após a deflagração da ação. Ele sustenta que a operação teria sido amparada, inicialmente, apenas por uma reportagem jornalística publicada em agosto de 2022. “A busca e apreensão foi realizada em 23 de agosto. Porém, se os senhores observarem, os relatórios e todo o material que a mim foi passado para montar aquela farsa são dos dias 26, 27 e 28 de agosto”, afirmou. Essa alegação, caso confirmada, levantaria questionamentos sobre a legalidade do procedimento.
Em sua versão, Tagliaferro diz ter confeccionado pessoalmente documentos apresentados depois por Moraes, a pedido do juiz auxiliar Airton Vieira. O ex-assessor sustenta que o próprio ministro não tinha conhecimento de que o trabalho havia sido delegado a ele. “Esse documento que foi apresentado por Alexandre de Moraes para justificar e dizer que existia uma investigação preliminar foi confeccionado por mim, a pedido de Airton Vieira, que não sabia mexer com computador”, relatou. Além de textos, ele apresentou capturas de tela de mapas mentais e registros das etapas que teria executado. O episódio, se confirmado, exporia fragilidades na condução das investigações.
A fala de Tagliaferro repercutiu em Brasília no mesmo dia em que o Senado realizava sessão da Comissão de Segurança Pública, presidida por Flávio Bolsonaro (PL). O colegiado, majoritariamente composto por aliados do ex-presidente, acompanhava de perto o início da fase final do julgamento de Jair Bolsonaro no STF, em ação relatada por Alexandre de Moraes que apura tentativa de golpe. A coincidência entre os acontecimentos reforçou o clima de polarização e mobilizou tanto a base governista quanto a oposição, que viram nas declarações do ex-assessor mais combustível para disputas políticas já intensificadas.
O pano de fundo da polêmica remonta a agosto de 2022, quando uma reportagem revelou mensagens de empresários defendendo a ruptura institucional em caso de derrota de Bolsonaro nas urnas. Dias depois, a Polícia Federal deflagrou a operação que teve como alvos nomes conhecidos, como Luciano Hang, dono da Havan, e José Koury, do Barra World Shopping. À época, Moraes, então presidente do TSE, foi acusado por críticos de agir com rigor excessivo, mas defendido por apoiadores da Corte sob o argumento de que estava preservando a democracia. As novas declarações de Tagliaferro, portanto, reacendem a discussão sobre os limites da atuação judicial em tempos de crise.
Apesar das graves acusações, Eduardo Tagliaferro também enfrenta problemas judiciais. Ele foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, ao STF no mês passado, sob acusações de violação de sigilo funcional, obstrução de investigação e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A denúncia surgiu após investigações da Polícia Federal sobre suposto vazamento de mensagens internas do gabinete de Moraes. O duplo papel de denunciante e acusado transforma Tagliaferro em figura central de um embate político-jurídico que promete se estender nos próximos meses. O caso, além de gerar repercussão internacional, deve manter o Judiciário no centro das atenções, pressionando ainda mais as já tensas relações entre os Poderes.
