Brasil

“Querem me destruir ”, diz Bolsonaro, em seguida ele dar triste notícia para todos

Em meio ao avanço das investigações sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar duramente o sistema judiciário e político brasileiro. Sem mencionar nomes diretamente, Bolsonaro publicou nesta segunda-feira (14/7) um desabafo contundente nas redes sociais, afirmando ser alvo de uma perseguição sistemática que, segundo ele, visa não apenas sua eliminação política, mas também física.

“O sistema nunca quis apenas me tirar do caminho. A verdade é mais dura: querem me destruir por completo – eliminar fisicamente, como já tentaram – para que possam, enfim, alcançar você. O cidadão comum”, escreveu o ex-presidente em sua conta na rede social X (antigo Twitter).

A declaração ocorre em uma semana sensível para o ex-mandatário. O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou as oitivas de testemunhas de acusação em inquéritos que investigam a atuação de três núcleos de uma organização criminosa. Essa estrutura, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), teria atuado para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro e abrir caminho para um suposto golpe de Estado após a derrota de Bolsonaro nas urnas em 2022.

Discurso de resistência e vitimização

Bolsonaro tem apostado em um discurso que mistura vitimização, denúncia de censura e ameaça à liberdade de seus apoiadores. “Querem silenciar quem se opõe. E se não podem calar com censura, tentam com ameaças, inquéritos, prisão ou até com a morte. Não se enganem: se hoje fazem isso comigo, amanhã será com você”, escreveu ele, apelando diretamente à base mais fiel.

A estratégia não é nova. Desde que deixou a presidência, Bolsonaro tem usado as redes sociais para reforçar a narrativa de que está sendo perseguido politicamente. Contudo, o contexto agora é ainda mais delicado: além de inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele é investigado por crimes que incluem tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano ao patrimônio público e envolvimento com organização criminosa armada.

“Não luto por mim”, afirma Bolsonaro

Em tom quase messiânico, o ex-presidente afirmou que sua luta vai além de sua figura política. “Não luto por mim. Luto por algo muito maior. Luto pela maioria esmagadora dos brasileiros que não se curvaram. Luto porque não aceito ver o país escravizado por um sistema podre”, disparou.

Na mesma postagem, ele acusou a imprensa de ser “comprada” e disse que o Judiciário está tomado por “juízes militantes”. Bolsonaro afirma que há um plano em curso para impor ao Brasil um “sonho ideológico nefasto”, numa tentativa de associar os avanços das investigações a um suposto projeto de poder de esquerda.

STF amplia cerco a aliados do ex-presidente

As declarações de Bolsonaro surgem enquanto o STF intensifica as apurações sobre a organização dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas por manifestantes inconformados com o resultado das eleições. A investigação abrange políticos, militares e empresários supostamente envolvidos em articulações para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-presidente já prestou depoimento à Polícia Federal e nega qualquer envolvimento com as ações antidemocráticas. Porém, a PGR sustenta que Bolsonaro teve papel central na disseminação de desinformação sobre o processo eleitoral, alimentando um ambiente de instabilidade que culminou nos ataques em Brasília.

Clima político se acirra

As falas de Bolsonaro não apenas alimentam o clima de polarização no país, como também colocam pressão sobre o ambiente político e institucional. Parlamentares aliados do ex-presidente saíram em sua defesa nas redes sociais, reforçando a tese de perseguição. Por outro lado, membros do governo e de partidos de centro e esquerda classificaram as declarações como “irresponsáveis” e “incentivo à desordem”.

A retórica adotada por Bolsonaro tem sido observada com cautela por analistas políticos, que alertam para o risco de tensionamento social. Para muitos, o ex-presidente busca manter sua base mobilizada em torno de uma narrativa de resistência, mesmo estando juridicamente fragilizado.

Futuro político incerto

Com a inelegibilidade decretada e diversos processos em andamento, Jair Bolsonaro enfrenta um futuro político incerto. Ainda assim, suas declarações mostram que ele continua disposto a atuar como figura de liderança da oposição, mesmo que à margem das instituições.

Resta saber até onde esse discurso o levará — e se os aliados que ainda o sustentam estarão dispostos a seguir em uma rota de confronto direto com o Judiciário e as instituições democráticas do país.