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Após delação de Mauro Cid, Bolsonaro faz pedido a Alexandre de Moraes

Por trás de um perfil anônimo e de mensagens criptografadas, uma trama complexa ameaça revirar mais uma vez o já instável tabuleiro político brasileiro. E no centro desse turbilhão está um nome que parecia ter mergulhado no silêncio: Mauro Cid.

Na última semana, uma reportagem da revista Veja lançou uma bomba que pode ter efeitos devastadores para os bastidores do poder no Brasil. O tenente-coronel, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teria mentido em seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). A acusação, embora grave por si só, é apenas a superfície de algo mais profundo – um enredo marcado por traições, vigilância e suspeitas de conspiração.

Tudo começou com um detalhe aparentemente banal: Cid havia dito, diante de investigadores do STF, que não havia utilizado redes sociais nem mantido contato com aliados durante o período em que esteve sob medidas cautelares. A ordem era clara: silêncio absoluto. No entanto, novas evidências apontam o contrário.

O Perfil “Gabriela R.” e as Mensagens Secretas

Na quinta-feira (12), a Veja revelou capturas de tela que teriam sido extraídas de uma conta misteriosa: “Gabriela R.”. Esse perfil, usado supostamente por Cid, teria trocado mensagens com alguém do círculo mais íntimo do ex-presidente. O conteúdo? Explosivo.

As conversas indicam que Cid pode ter contado duas versões diferentes da mesma história: uma para os investigadores, outra para seus aliados. Nas entrelinhas, insinua-se um jogo duplo perigoso – ou seria apenas mais um movimento calculado dentro de uma guerra jurídica que se arrasta desde o fim do governo Bolsonaro?

As implicações são gigantescas. Se comprovada a fraude no depoimento, a delação premiada de Mauro Cid – peça-chave na construção do inquérito sobre uma possível tentativa de golpe de Estado – pode ser invalidada. Mais do que isso: todo o edifício acusatório que se ergue a partir das declarações do militar pode desmoronar.

A Reação de Bolsonaro: “Uma Caça às Bruxas”

Foi diante dessas revelações que Jair Bolsonaro rompeu o silêncio e reagiu com veemência. Em uma publicação feita nesta sexta-feira (13) na plataforma X (antigo Twitter), o ex-presidente pediu a anulação imediata da delação de Cid.

“Essa delação deve ser anulada. Braga Netto e os demais devem ser libertos imediatamente. E esse processo político disfarçado de ação penal precisa ser interrompido antes que cause danos irreversíveis ao Estado de Direito em nosso país”, escreveu Bolsonaro.

Mais do que um protesto jurídico, a mensagem escancarou o tom dramático que tem marcado a estratégia de defesa do ex-mandatário. Bolsonaro voltou a afirmar que está sendo vítima de uma “caça às bruxas” movida por vingança. Segundo ele, a chamada “trama golpista” seria uma farsa, construída em cima de mentiras e manipulações.

Entre a Verdade e a Sobrevivência Política

A delação de Cid era vista por muitos como um ponto de virada – uma fonte de informações que poderia iluminar os bastidores sombrios do último governo e os passos que se seguiram após as eleições. Agora, com a credibilidade da colaboração em xeque, cresce a tensão entre o Judiciário, o Ministério Público e os aliados do ex-presidente.

Especialistas em direito penal apontam que, se confirmada a quebra do acordo de delação, Cid poderá perder todos os benefícios legais conquistados. Além disso, o episódio reforça a desconfiança entre os delatores e os delatados – um jogo perigoso em que cada passo em falso pode significar anos de prisão ou a ruína de uma carreira política.

O Que Está em Jogo Agora

Nos corredores de Brasília, as perguntas se multiplicam: Mauro Cid jogou para os dois lados desde o início? Há outros militares ou políticos utilizando perfis secretos para articular defesas paralelas? E, acima de tudo: essa suposta manipulação poderá anular provas que já vinham sendo usadas em investigações sensíveis?

O clima é de suspense. A qualquer momento, novas mensagens, áudios ou documentos podem vir à tona e redefinir o rumo de uma história que está longe de terminar.

Enquanto isso, o país assiste – entre perplexidade e cansaço – à mais recente reviravolta de um enredo que parece ter saído de uma série de espionagem política. Mas aqui, os protagonistas são reais, as consequências são concretas e o desfecho, ainda incerto.